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Hopi Hari faz 18 anos e busca recuperar status: ex e atuais funcionários lembram trajetória polêmica

‘Me traumatizei com o que aconteceu. Éramos muito apaixonados pelo parque’, diz ex-gerente. Processo e recuperação judicial do centro de diversões em Vinhedo já dura 15 meses.

Por Patrícia Teixeira, G1 Campinas e Região

Após uma “infância” de sucesso e uma “adolescência” conturbada, enfim, a “maioridade”. O parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo (SP), completa 18 anos nesta segunda-feira (27) em busca de recolocação entre os grandes parques brasileiros e de soluções para sair da crise financeira. O G1 conversou com ex e atuais funcionários que dedicaram longos anos da carreira profissional à empresa. Eles relatam como foi e como tem sido atravessar momentos de crise, e falam da esperança na recuperação, em todos os sentidos.

As dívidas do centro de atrações com Prefeitura e credores já passa de R$ 465 milhões, sendo R$ 8 milhões débitos trabalhistas, segundo o advogado do processo de recuperação judicial do parque, Sérgio Emerenciano.

O complexo já foi o maior da América Latina. “Nasceu” em 1999 e em 2010 teve seu maior público com mais de 1,5 milhão de visitantes. Dois anos depois, a maior tragédia. A morte da adolescente Gabriela Nichimura, de 14 anos, em uma das principais atrações, a “Torre Eiffel”, e o decrescente número de visitantes. O pior público do Hopi Hari foi de 60 pessoas, segundo o presidente José David.

O parque suspendeu as atividades em maio deste ano com 18% das atrações funcionando e retornou otimista ao mercado de parques em agosto. O aumento no público chegou a 180% em um mês.

“É muito gratificante chegar aos 18 anos com 90% das atrações. Muito feliz em fazer parte da história, nesse momento, de um patrimônio do país. […] No início do parque foi feito um investimento muito grande com dinheiro do BNDES. É uma responsabilidade muito grande de conseguir deixar ele ativo”, afirma o presidente José David.

Ao menos 50% da dívida do empreendimento é com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

De atendente a gerente

Entre os que deixaram a empresa e os “sobreviventes”, está a gerente Camila Schvarcz Ribeiro, de 39 anos. Ela foi uma das primeiras atendentes de bilheteria do Hopi Hari, cresceu na empresa e é a atual gerente de operações.

Entre os momentos mais tensos, Camila destaca a tragédia de 2012 e o fechamento do parque em maio deste ano para uma “breve pausa”, que durou três meses.

Ela conta como foi encarar a saída de colegas por conta da crise. “Bons funcionários não conseguiram esperar. […] Todo mundo [público] saía reclamando, você até queria se esconder no parque”.

Com a mudança no cenário desde a reabertura, 90% dos brinquedos ativos e o público em alta, o resultado do processo de retomada das atividades já emociona Camila.

Ainda não há uma previsão para ele e os outros mais de mil credores trabalhistas – segundo a administração judicial do processo – receberem seus direitos. O plano de recuperação judicial está em andamento há 15 meses e precisa ser votado e aprovado entre os credores para que se conte o prazo de até um ano para a quitação das pendências trabalhistas. No entanto, após três assembleias suspensas, não há uma data prevista para que a votação aconteça.

“A gente viveu uma fase muito difícil, mas o parque se levantou com resultados e foi possível até investir em áreas novas. Em função da fatalidade de 2012 o fluxo do caixa do parque foi consumido. […] No momento em que o parque conseguiu reconquistar a confiança, não tinha verba para retomar”, lembra.

Desde a construção

Quem também atravessou esses e outros momentos do parque foi Luiz Carlos Pereira Souza, de 45 anos. Desde sempre, atua nos bastidores do parque, na manutenção. Somados aos 18 anos de atividade do Hopi Hari, ele tem no currículo mais um ano e meio de participação na montagem de toda a estrutura do complexo.

Para ele, o baque da tragédia não foi pior que o fechamento da atração.

A movimentação de técnicos, mecânicos e máquinas nos dias em que o parque não abre aos visitantes transmite vida para ele e outros profissionais que trabalham pra devolver o brilho ao local.

“É uma alegria e tanto! Porque, do jeito que nós vimos a situação que estava e agora chegar nesse ponto, é muito bom”, finaliza.

Desafio diário

Desde que chegou no Hopi Hari em fevereiro deste ano – pico da crise no parque – disposto a mudar de carreira, José David passou de visitante assíduo à presidência do centro de diversões. Sabia, sim, que encararia o que hoje acredita ser o maior desafio da sua vida.

De início, se surpreendeu ao lidar com o impacto ainda muito presente da tragédia da “Torre Eiffel” quando iniciou a sua gestão.

Em nove meses, diz que as dificuldades e superações são diárias. A meta, segundo ele, é estabilizar a visitação do parque para aumentar o público máximo de 5 mil para 7,5 mil pessoas já no ano que vem, com foco em chegar aos 12,5 mil por dia de funcionamento – o equivalente a 2,650 milhões de visitantes por ano.

Todo o histórico do Hopi Hari caminha acompanhado de esperança, diz o presidente.

“É uma missão muito importante, estou aqui todos os dias, estamos há seis meses trabalhando nos finais de semana direto. […] O dia em que tive que anunciar o fechamento do parque foi duro. Mexe com muitas famílias. […] Os funcionários já passaram por muitas coisas aqui e continuam resilientes”, completa.

https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/hopi-hari-faz-18-anos-e-busca-recuperar-status-ex-e-atuais-funcionarios-lembram-trajetoria-polemica.ghtml