Título padrão

Valor

22/02/2017 – 05:00

Retomada de credibilidade depende do engajamento de líderes

Por Roseli Loturco

Depois que empresas de capital aberto e fechado , vistas c o mo referência no s setores em que atuam, tiveram a reputação afetada pelas investigações da operação Lava-Jato , o sinal vermelho foi ligado . Como resgatar a confiança de investidores que perderam bilhões junto com a queda do valor de mercado das empresas? Como a reditar que empresas listadas no Novo Mercado estão blindadas com as melhores práticas de governança depois do efeito X – companhias ligadas ao grupo EBX, de Eike Baptista, envolvidas em investigação e escândalo de corrupção.

A palavra governança é bem ampla e nem sempre é bem entendida pelas empresas que adotam suas práticas. Só no novo código a ser regulado pela Comissão de Valores Mobiliário s (CVM) existem 54 regras e cada companhia tem que encontrar o seu caminho para adequação às normas. “Não existe mo delo único e nem fórmula mágica. Vai da cultura de cada empresa e envolve grandes etapas a serem seguidas. Primeiro, tem que conscientizar a empresa sobre o que significa a governança corporativa”, indica Eduardo Lopes Farias, diretor de controles interno s, compliance (regras de conformidade) e risco corporativo da BM&FBovespa.

Só a partir desse entendimento e do engajamento de to das as àreas da companhia é que é possível se pensar em retomada de credibilidade. Para a Bolsa, que tem promovido debates sobre o assunto e está em momento de renovação dos critérios de listagem no Novo Mercado, governança não pode ser vista como custo, mas sim como investimento.

Os pontos mais relevantes dessa discussão impõem maior ênfase nos controles internos e na área de complianc e, que deve ter independência para avaliar o grau de risco corporativo da empresa. “Essa nova área funcionará entre a alta administração e a auditoria interna e terá que assegurar que riscos elevados estão sendo evitados e decisões estão sendo tomadas em prol da companhia”, diz Farias.

A área de compliance tem que olhar e dizer qual é o risco que a empresa está correndo, mas quem tomará a decisão pela mudança de rota ou não serão as áreas envolvidas com o conselho de administração. “Esse modelo tem que ter o comprometimento total do CEO e do conselho. Sem essa base de apoio, a área não funciona”, alerta o diretor da Bolsa.

Mas para recuperar de fato a credibilidade, primeiro a empresa tem que mostrar que está se reestruturando completamente e definir novo código de conduta e ética que seja incorporado à cultura da empresa. “E a conduta da empresa tem que mudar com transparência. Este é o componente mais difícil e é um trajeto longo que tem que ter comprometimento de seus proprietários”, indica Sidney Ito, sócio da KPMG e líder para o setor de governança corporativa.

“Depois é preciso revisitar ou adotar to da a estruturação de governança, criar controles internos, comitês, conselho de administração e área de compliance e fazer reportes periódicos ao mercado.”

Mas há ainda uma preocupação adicional dos investidores. Como acreditar que as empresas não irão cair em tentação novamente? Especialistas acham que dentro do processo de maturação seria muito difícil incorrer no mesmo erro do passado, devido ao trauma, perda de valor de mercado e prisão de executivos e donos.

“Os casos que virão serão em quantidades menores. Vivemos um processo de aprendizado no qual as empresas serão mais cobradas e punidas e a população também está mais de olho”, afirma o sócio da KPMG.

Para Robertson Emerenciano, sócio do escritório de advocacia Emerenciano, Baggio & Associados, para recuperar a credibilidade os canais de denuncia e a punição tem que começar dentro da própria empresa e ser exemplares. “Se as punições não forem conduzidas adequadamente, você não muda a cultura da empresa e este é um processo que leva tempo”, diz. “Tem que mostrar que as práticas de governança estão efetivamente sendo praticadas”, afirma Emerenciano. Mas a denúncia não deve se restringir aos muros da empresa.