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Anulação do rito de impeachment oscila mercado

Publicado 09/05/2016 – 20h06 – Atualizado 09/05/2016 – 20h07    Por Adriana Leite

Cedoc/ RAC
Gislaine, do Ibef: “enquanto não houver uma decisão, não haverá estabilidade. Só sei que não teremos monotonia”.

Os empresários reclamam que o clima de incerteza política prejudica a economia e os negócios no Brasil: basta uma mexida no tabuleiro político em Brasília para afetar a Bovespa e o dólar.

Nesta segunda-feira (9), a divulgação de uma provável anulação da votação do processo de impeachment na Câmara gerou nervosismo no mercado financeiro. A indefinição repercute sobre o planejamento de investimentos e também nas expectativas de empresários e consumidores.

Representantes do setor empresarial se queixam ainda que a guerra política destrói a imagem do Brasil no Exterior. E especialistas em direito acreditam que, mesmo com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, a instabilidade vai continuar nos próximos meses enquanto o processo do impeachment ainda estiver tramitando no Senado.

De acordo com os especialistas, o vácuo de legitimidade impacta a economia e afugenta investidores internacionais que temem a insegurança jurídica. Outro problema seria a falta de comando nas principais instituições como o Executivo e o Legislativo, o que abre espaço para que o Judiciário decida sobre o dia a dia do País.

O diretor-titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Regional Campinas, José Nunes Filho, afirmou que a decisão do presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão, foi equivocada e mostrou o vale-tudo em que se transformou o processo de impeachment.

“Quanto mais cedo se resolver a situação da troca do governo, mais rápido o País vai sair dessa incerteza. A agonia tem que terminar logo. Os poderes Executivo e Legislativo estão paralisados e a economia brasileira sofre com a falta de medidas para alavancar o setor produtivo”, afirmou.

A presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Regional Campinas, Gislaine Heitmann, afirmou que a falta de credibilidade dos governantes no Brasil prejudica o setor produtivo e também afeta a imagem do País.

“Enquanto não existir uma definição sobre o impeachment da presidente, não há como restaurar a estabilidade econômica e política do Brasil. Não há como as empresas planejarem os próximos passos que serão tomados para enfrentar a crise. O País vê hoje o fechamento de empresas e milhões de trabalhadores desempregados”.

Gislaine comentou que os olhos dos brasileiros estão voltados para Brasília. “Todos esperam que o bom senso prevaleça. O Brasil perde tempo e os empresários e a população sofrem com a falta de rumo, principalmente na economia e política. A pauta econômica atual é bastante impopular. Será que o governo, qualquer que seja ele, terá coragem e apoio para fazer o necessário? E as ruas? Qual será o comportamento das massas, tão polarizadas? Só tenho mesmo uma certeza, a de que não haverá monotonia”, disse.

A vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), Adriana Flosi, também ressalta que a indefinição deixa o País paralisado. “É uma situação nociva para o País”, ressaltou, observando que seja qual for o posicionamento do Congresso, pelo impeachment ou pela manutenção da presidente Dilma Rousseff no cargo, é necessário adotar um rumo para que o Brasil volte a crescer e gerar renda.

Vácuo

O especialista em direito empresarial, Adelmo Emerenciano, afirmou que a leitura dos investidores internacionais é de insegurança jurídica no País.

“A medida adotada pelo presidente interino da Câmara (Waldir Maranhão) mostra a instabilidade política e jurídica que assola o Brasil. O presidente do Senado, Renan Calheiros, manteve o rito do processo na Casa, mas a ação adotada na Câmara mostra que é possível surgirem novas contestações”, disse. Para ele, “hoje, não existe governo”.

Sócio do escritório Emerenciano, Baggio & Associados, ele contou que ontem recebeu ligações de clientes de outros países em busca de informações sobre a situação do Brasil. “O mercado internacional vê o Brasil como um local cheio de instabilidades. Quem quer fazer investimentos produtivos no País prefere esperar, porque não há como elaborar um planejamento de longo prazo”, afirmou.

Nervosismo fez Bovespa despencar e dólar explodir

A decisão do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular o processo de impeachment na Casa gerou forte volatilidade no mercado financeiro nesta segunda.

O dólar chegou a disparar quase 5% (na máxima do dia, subiu 4,82%), refletindo o sobressalto dos investidores diante da possibilidade de o processo de impeachment sofrer um revés.

No entanto, a percepção de que a medida teria poucas chances de se sustentar acabou por acalmar os ânimos ao longo do dia, e a divisa terminou o dia em alta bem mais modesta, de 0,61%, cotada a R$ 3,525.

Isso porque juristas e consultorias indicaram que a decisão de Maranhão poderia ser revertida no próprio Senado ou no Supremo Tribunal Federal. Notícias de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ignoraria a decisão e manteria o processo no Senado – que mais tarde se confirmaram – reforçaram as análises iniciais.

Antes da notícia da anulação, o dólar já operava em ligeira alta, num reflexo da aversão ao risco dos investidores externos. As exportações da China caíram 1,8% em abril, na comparação com igual mês de 2015, contra previsão de estabilidade. As importações recuaram 10,9%, ante expectativa de queda de 4%. Já as importações de petróleo cresceram 7,6% – o único dado positivo, por indicar aquecimento econômico.

Na Bolsa, as notícias sobre o retrocesso do processo de impeachment também espalhou temor no mercado brasileiro de ações nesta segunda-feira, e a Bovespa chegou a cair 3,5% pela manhã.

Depois, à tarde, seguiu o mesmo caminho do dólar: não inverteu a tendência do início do dia, mas terminou em baixa bem menor do que logo após o susto com a notícia, e fechou com recuo de 1,41%. Vale, CSN e Petrobras acumularam as maiores perdas.

Antes da notícia da anulação, a Bovespa já vinha em trajetória de queda – em torno de 1% – determinada essencialmente pelo mau humor no cenário internacional, também por conta dos dados de exportações da China.

Em reação aos números fracos da economia chinesa, o minério de ferro fechou em queda de 3,6% (a US$ 55,6 a tonelada seca), com reflexos diretos sobre as ações de mineração, siderurgia e metalurgia. Os preços do petróleo também passaram a cair. (Estadão Conteúdo)

Fonte: Correio Popular